domingo, 18 de dezembro de 2016

PURO DEMAIS PARA VOCÊ


Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. (…) Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado a qual um único bêbado bebe, um único copo de bourbon, contemplado por um unico garçom. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de flrozinhas miudas. Lareiras acesas, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de heras. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: “Im too pure for you or anyone.” Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Caio F. Abreu

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